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O TEMA

A CIDADE NÃO PARA, A CIDADE SÓ CRESCE

Sobre a importância de demolir overdrives e construir pontes    

 

 

A CIDADE QUE ACREDITAMOS

 

     Quando pensamos em ter como tema “direito a cidade”, visamos problematizar questões que não se restrinjam apenas aos processos de urbanização e posses de terra, mas também do direito aos corpos, expressões, afetações e ocupações dos mais diversos espaços, sempre atento aos coletivos que se mostram como resistentes nesse processo de massificação da subjetividade e aprisionamento dos corpos.

     Consideramos também a problemática de estender ou não esse debate a cidades de pequeno e médio porte, não desconsiderando a importância de se discutir as resistências, possibilidades e necessidades das ocupações desses espaços, mas por se aproximar muito da temática do IX EREP Areia e servir como um convite a experimentação de outros territórios e nos levar a pensar que cidade habita em nós.

     Assim a cidade que acreditamos é feita para/por mulheres, negrxs, LGBTs, para/por pessoas que sejam livres para ser e sentir. A cidade não foi pensada e construída para negrxs, pois ela serve a uma elite da qual essas pessoas não fazem parte, utilizando de modelos segregatórios como delimitadores de espaços e estruturação da cidade não para o seu uso, mas por uma via da apropriação financeira. Podemos observar essa estruturação quando pensamos na precarização de espaços públicos e nas suas poucas possibilidades de acesso, dando lugar a uma especulação imobiliária crescente e lucrativa, que reestrutura esses espaços de maneira seletiva. Seleção essa que historicamente não se deixa incluir xs desajustadxs a um conceito pré-estabelecido do que é aceito na sociedade. Assim, as nossas senzalas progressivamente se transformaram em favelas, que são comunidades excluídas dos grandes centros, e por conta disso são impedidas de exercer seu direito de livre circulação e ocupação das nossas cidades.

     Outrossim, as mulheres e a população LGBTs sempre estiveram fora do processo de organização das cidades, pois o lugar das mulheres no patriarcado é no âmbito privado, enquanto a população LGBTs foi excluída desse processo por fazer parte de um exercito de reserva para o capital. Por conta disso as cidades não são convidativas para as pessoas que não se encaixam em um ideal social. As ruas mal iluminadas, o transporte público precarizado, e a legitimação do assédio acabam sendo estratégico para aprisionar tais expressões de modo de ser.

     Por isso, pensamos aqui o território como sendo demarcado por um caráter relacional. “Tratar o território como campo relacional é considerá-lo um campo de forças, de relações de poder espacialmente delimitadas em um contexto específico.” (COSTA; MENEZES, 2009). Não nos referirmos à cidade enquanto localização geográfica cercada de divisas e muros, mas enquanto palco de diálogos trocas de vivências, encontros afetuosos e desarmônicos oriundos dos processos de desigualdades existentes nesse cenário que precisam ser visibilizados.

     Como estudantes de psicologia, não podemos deixar de falar sobre a exclusão dos considerados “loucos” socialmente. Tais pessoas são impedidas de circular livremente pelos espaços da cidade, desconsiderando suas potencialidades de transformação social e política. Excluímos assim o que foge da norma, o que não agrada, o diferente.

     Como menciona Simões (2014) a relevância dessa discussão crítica do direito tem sido reconhecida, no sentido de “enfatizar que a lógica da discriminação é interseccional, isto é, que ao mesmo tempo uma relação de classe, de gênero, de sexualidade, de racialização” (SIMÕES, 2014, p. 03) e são aspectos dinâmicos e relacionais da identidade social. Não bastaria ressaltarmos o modelo social hierárquico e normativo da cidade, mas pensar em como questões de gênero, orientação sexual, cor e classe coexistem e se habitam o mesmo território.

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